quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Alimentação puxa alta do IPCA

Até novembro de 2011, o medidor oficial da inflação brasileira apresentou incremento médio mensal de 0,52% sem registrar qualquer variação negativa ao longo de 11 meses. Para finalizar o ano dentro do teto da meta estipulada pelas autoridades monetárias (6,5%), deverá fechar o último mês do ano com, no máximo, 0,50% de alta, ligeiramente abaixo dessa média.
Uma avaliação mais aprofundada da composição do indicador nos leva a crer que este comportamento tem sido influenciado, de maneira contundente, pelas condições climáticas pouco favoráveis. Este cenário de clima incerto compromete o desempenho da safra de muitos produtos, reduzindo sua oferta no mercado e elevando os preços finais destes bens. Prova disto é que as maiores contribuições para altas no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) são oriundas das variações ocorridas neste setor, especialmente em produtos in natura. O segmento de Alimentação, cujo peso no indicador é de aproximadamente 23%, já acumula alta de 5,97% em 2011.
Enquanto algumas frutas, verduras e legumes têm oscilado em magnitudes significativas, como a mandioca, por exemplo, que atinge variação acumulada de 50,64% em 2011, a chegada das temperaturas mais amenas, a incidência de chuvas e o aumento da área plantada permitem um desenvolvimento mais adequado de outras culturas como o alho, feijão fradinho e a laranja pêra, que recuam 29,75%, 22,38% e 17,16%, respectivamente, no mesmo período.
Por outro lado, não se pode deixar de notar que alguns serviços disputam a posição do topo da lista dos vilões do ano, como os preços das passagens de avião, por exemplo. Com 56,11% de alta no acumulado de janeiro a novembro de 2011, o resultado supera a variação acumulada de qualquer outro item do IPCA. Aliado ao reajuste no preço do querosene de avião – que representa cerca de 40% do custo das passagens - o aumento crescente da demanda doméstica tem surtido um efeito potencializador nesta tendência de preços mais pressionados.
Embora para cumprir a meta de inflação os preços tenham que ficar ligeiramente abaixo da média do ano, há muitos indícios de que os alimentos devem encerrar o período de altas persistentes em breve, pois as safras tem se desenvolvido de maneira muito positiva por conta de maiores investimentos, aumento de área plantada e melhora significativa das condições climáticas com o aumento das temperaturas e das chuvas nos últimos meses. A crise europeia também ainda não relevou de que forma deve encurtar sua demanda por commodities e por conta disto, os preços nos mercados internacionais estão em tendência de ligeira queda e, consequentemente, tendem a pressionar para baixo os preços internos neste momento.
De qualquer forma, o Governo não pode esquecer que além de perseguir metas de inflação utilizando instrumentos de política monetária, deve priorizar em sua agenda a melhoria efetiva das condições de oferta de uma economia, de forma a minimizar descompassos entre oferta e demanda, reduzindo ao mínimo o temor da volta da inflação e possíveis pressões de demanda. No caso de alimentos, por exemplo, um grupo muito importante na formação do indicador de inflação, os custos de transporte são bastante relevantes na formação do preço final.
Além de estimular o consumo de bens por meio de incentivos fiscais, é imperioso que haja investimento em setores específicos e que impactam de forma significativa na formação dos preços da economia. De qualquer forma, nossa expectativa é de que o IPCA vá terminar 2011 no limite, um pouco abaixo dos 6,50%.

Assessoria Técnica

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